Se analisarmos a história do nosso estado, veremos que há um consenso de que a parte mais importante e lembrada dela é a Revolução Farroupilha. Dos que lutaram nela, o único que é conhecido internacionalmente é Giuseppe Garibaldi. Ele tem estátuas em sua homenagem no mundo inteiro, inclusive aqui. Aliás, temos também um belíssimo monumento para Bento Gonçalves. Só que, ao meu ver, essas esculturas não possuem destaque algum. Sim, os herois da nossa terra passam despercibos no nosso dia-a-dia. E pior: estão parcialmente destruídos por vândalos e pelo tempo.
Monumento para Bento Gonçalves, corroído e pichado, na Praça Piratini
A Revolução Farroupilha foi um movimento elitista do Rio Grande do Sul ocorrido no século XIX, liderado pelo general Bento Gonçalves da Silva. O governo monárquico brasileiro impôs altas taxas ao charque gaúcho, principal economia do estado na época, e incentivou a importação do produto proveniente da região do Rio da Prata. Além disso, o sal, essencial para a produção do charque, teve sua taxa de importação aumentada. Os ricos estancieiros, revoltados, tomaram Porto Alegre, a capital gaúcha, em 20 de setembro de 1835, exigindo um novo presidente para a província que atendesse aos interesses deles. Como a resposta do imperador brasileiro foi transferir a capital para a cidade de Rio Grande e iniciar uma ofensiva aos revoltosos, o povo gaúcho não viu outra alternativa a não ser ir à luta.
Com o apelo popular crescendo conforme a guerra se desencadeava, o general Antônio de Sousa Netto proclamou a República Piratini no dia 11 de setembro de 1836, dois dias após impor uma derrota ao coronel João da Silva Tavares no Arroio Seival que parecia impossível de acontecer. O movimento passava a ter caráter separatista e a se preocupar com outras questões também, como a abolição da escravidão. Inspirado por movimentos desse tipo ocorridos anteriormente, como as revoluções americana e francesa, desembarca na província no ano seguinte o italiano Giuseppe Garibaldi. Durante a Guerra dos Farrapos, nome dado ao conflito entre o agora exército rio grandense e os imperiais brasileiros, ele conhece Anita, que junto com ele, ficou conhecida mundialmente por lutar na unificação italiana, a partir de 1848.
A guerra só teve fim em 28 de fevereiro de 1845, quando os farroupilhas foram derrotados em Poncho Verde e assinaram o tratado de paz com o general Luís Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias. Apenas no século seguinte é que o histórico conflito foi utilizado para definir o caráter do gaúcho, e hoje em dia ele é conhecido por praticamente toda a população do Estado do Rio Grande do Sul.
Em 1915, Porto Alegre foi presenteada pela comunidade italiana, já que o estado é uma forte colônia do país, com uma estátua em mármore de carrara em homenagem a Giuseppe e Anita Garibaldi, feita pelo pintor e escultor Filadelfo Simi (1849-1923). Ela está lá até hoje, esquecida, deteriorando-se com o tempo. O local também não é propício: em meio a um arvoredo e de frente para um local não muito movimentado da cidade.
Homenagem a Giuseppe e Anita, super mal tratada
Já Antonio Caringi (1905-1981), que fez inúmeros monumentos no estado, inclusive o Laçador, prestou sua homenagem ao líder farroupilha Bento Gonçalves. A estátua de cobre foi inaugurada em Porto Alegre em 1936, na Praça Redenção, e ocupa seu local atual, a Praça Piratini, desde 1941. É uma escultura também negligenciada, corroída e pichada, que não recebe destaque algum.
Caringi confeccionando a estátua de Bento
Precisamos, urgentemente, restaurar esses monumentos e dar a eles a atenção e o destaque merecidos. Temos orgulho de nossa história, mas esquecemos dos nossos herois, daqueles responsáveis por construir o estado maravilhoso em que vivemos hoje. E olha que Porto Alegre já foi eleita Capital Cultural do Mercosul. Vamos fazer valer esse título.