terça-feira, 10 de agosto de 2010

Estátuas perdidas II

Qual é o primeiro monumento ou a primeira estátua de Porto Alegre? Levando em conta que a capital gaúcha passa dos duzentos anos pode ser que eles nem existam mais. Ou será que enfrentam o esquecimento e a depredação característicos dos marcos históricos da cidade? Felizmente eles ainda figuram em praças públicas. Infelizmente possuem uma longa história de negligência.

Vamos voltar para Porto Alegre em meados do século XIX. A Cia Hidráulica, no intuito de fornecer água potável aos habitantes gaúchos, instalou diversos chafarizes pela cidade. Porém, em 1866, um deles prestara homenagem ao Rio Guaíba. Composto por cinco estátuas, quatro que representavam seus afluentes, Caí, Gravataí, Jacuí e Sinos, e outra em cima do chafariz central que exaltava o próprio rio, o monumento foi instalado na Praça da Matriz projetado por José Obino.

Monumento na Praça da Matriz, com o Theatro São Pedro ao fundo.

Em 1910 foi destruído para a construção do monumento a Julio de Castilhos. As cinco estátuas ficaram em um depósito até 1923, quando foram vendidas separadamente a proprietários privados. Uma campanha do Correio do Povo mobilizou a prefeitura para recomprar as mesmas, fato que só ocorreu em 1935, quando as quatro estátuas dos afluentes foram instaladas na praça Dom Sebastião. A estátua para o Guaíba, entretanto, continua em mãos privadas até hoje.












Há duas estátuas de mulheres - como a da esquerda - denominadas Cahy e Sinos (basta ler a inscrição no pedestal) e duas de homens - como a da direita - denominadas Gravatahy e Jacuhy.

Mesmo assim, a triste histórias dessas estátuas não termina por aí. Em 1983 elas foram retiradas da praça depois de passarem por diversas depreciações. Foram alvo depolêmica três anos depois, quando o governo foi acusado de tê-las esquecido, e só retornaram ao logradouro em 1996. Um espelho da água foi criado, mas hoje em dia o que se tem por lá é só concreto.














Estado atual do monumento na Praça Dom Sebastião, ao lado do Colégio Rosário.

Bom, agora resta a primeira estátua para uma pessoa de Porto Alegre. Como já explicado anteriormente, a Revolução Farroupilha foi e ainda é um marco da nossa história que mexe com o povo gaúcho. Sabemos que os revoltosos tomaram Porto Alegre em 20 de setembro de 1835. A capital gaúcha, no entanto, sempre foi leal ao Império do Brasil. Basta ler a inscrição no seu brasão: leal e valorosa cidade de Porto Alegre. O tenente-general Manuel Marques de Sousa III foi vital na retomada da cidade em 15 de junho de 1836. Ficou conhecido como Conde de Porto Alegre. A capital gaúcha, no entanto, mereceu as nobres palavras de seu brasão por resistir a um dos maiores cercos a uma cidade brasileira da história, que durou 1.283 dias, terminando somente em dezembro de 1840.

O Conde de Porto Alegre

Em dívida com o bravo militar, a cidade se viu obrigada a homenageá-lo. Uma estátua gigantesca foi encomendada, com um pedestal de 8 metros repleto de detalhes e alegorias. Porém, o que se teve foi uma pequena escultura inaugurada na Praça da Matriz em 1885, com 4 anos de atraso do previsto no seu projeto, numa solenidade que contou com a presença da Princesa Isabel. A estátua foi movida em 1912 para a atual Praça do Conde, onde está até hoje.

Estátua na Praça do Conde

Novamente Porto Alegre nos brinda com seu descaso com a sua própria história. A espada do Conde está quebrada, assim como braços e narizes do monumento ao Guaíba, cuja peça principal não está nem em mãos públicas. Além do mais a estátua e o monumento mais antigos da cidade enfrentam melancolicamente o esquecimento e o vandalismo.

1 comentários:

Dalvino Costa on 24 de janeiro de 2020 às 23:33 disse...

Sou paraense e visitei Porto Alegre, fiquei encantado com a arquitetura clássica da cidade,seus monumentos e casario secular. Dói ver que o brasileiro não cuida de seu bem maior: sua identidade.

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